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Apollo 10 e Meio: Uma Aventura Na Era Espacial

Foto do escritor: Messias AdrianoMessias Adriano

Atualizado: 27 de abr. de 2023



A Década de 1960 foi um período de grandes mudanças, anos de choques culturais, quando o rock se reinventava, a guerra do Vietnã e a Guerra Fria se desenrolavam, a pílula anticoncepcional virava moda e o estilo hippie florescia. Essa podia ser uma introdução ao documentário Summer Of Soul, mas é do novo filme de Richard Linklater, que se baseia também em um evento marcante da época e o associa à própria vida do protagonista. Ou do próprio diretor.


Voltando para as animações depois de Acordar Para A Vida e O Homem Duplo, Linklater retrata aqui como era ter 10 anos no Texas de 1969: treinamentos nas escolas sobre como se proteger de bombas se escondendo embaixo de uma mesa, propagandas da NASA por todo canto, astronautas tratados como heróis, cujos nomes todos sabiam, e muitas referências diretas às séries de TV e filmes da época. Risco de morte, patriotismo e entretenimento: uma delícia.


Embalado por inúmeras canções do período, o filme explora a dinâmica familiar de Stan, a relação com os muitos irmãos (hey, ele é um baby boomer) e, bem, uma aventura na qual o garoto é chamado para ser a primeira pessoa a pisar na lua, um teste necessário para que os americanos enviassem Armostrong e companhia em segurança.


É inegável que Linklater escreve diálogos divertidos, sendo esse apuro um dos pontos que engrandecem a carreira do roteirista (“Não mandamos um macaco porque você fala mais palavras no nosso idioma.”). A narração do filme é nostálgica, ao estilo da série Anos Incríveis, mas sem o sarcasmo do Kevin Arnold adulto na representação da rotina de um adolescente do subúrbio americano.



Em Boyhood, o diretor também ilustrava a vida cotidiana, mas o fazia de forma tão íntima que o resultado foi um involuntário um estudo sobre o amadurecimento, um ótimo e sensível filme. Em Apollo 10 e Meio, no entanto, ele aproveita as memórias da própria infância para construir uma crônica bonitinha em rotoscopia (técnica de animação que usa filmagens como base), mas recheada de filtros nostálgicos cujo conflito inexiste e a doçura não é o suficiente para ganhar destaque na memória do espectador.


O “10 e Meio” do título faz referência à missão secreta, ocorrida entre Apollo 10 e Apollo 11, mas também à idade do protagonista. O que foi real, o que foi imaginado? A resposta está na fala da mãe: “vocês sabem como é a memória”, diz ela ao defender que o garoto vai dizer que lembra do pouso na lua, apesar de ter dormido no sofá.


A aventura do menino de 10 anos do Texas pode não ser ir ao espaço, mas ter vivido tudo aquilo. Cria-se um afeto tão grande de certos detalhes da memória, que relembrar a infância é imaginar ter realizado um grande feito, como pisar na lua. Pra quem vê de fora, no entanto, assistir a essas memórias às vezes pode fazer com que bata aquela vontade de dormir, assim como o fez Stan e os irmãos diante da tv.


*Crítica publicada originalmente em abril de 2022 no site Canal Claquete.

 

Nota: 3/5


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