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Brasiliana: O Musical Negro Que Apresentou o Brasil Ao Mundo | Crítica

Foto do escritor: Messias AdrianoMessias Adriano

Atualizado: 17 de dez. de 2024

brasiliana

Durante os Anos 50 até o início dos Anos 70, um grupo teatral brasileiro formado por bailarinos negros e periféricos viajou por diversas turnês na Europa. Sucesso da época no exterior, hoje a companhia de teatro de revista chamada “Brasiliana” encontra-se relegada ao posto de invisível e desconhecida.


Imagens de arquivos revelam um musical enérgico, exuberante em suas apresentações de dança performáticas e músicas explosivas, todos relacionados à história do negro no Brasil, em números que iam da representação de um navio negreiro, passando pela colheita do café nos campos e também pela umbanda e carnaval. Essa explosão frenética não é a sensação que passa o documentário de Joel Zito Araújo, no entanto.

brasiliana

Aproximando-se bastante da linguagem televisiva, a obra mostra pequenos recortes de entrevistas na introdução do filme. No entanto, essas mesmas falas serão repetidas no meio do documentário, em uma estratégia utilizada para se assemelhar à abertura de uma série ou a uma peça publicitária, objetivando prender a atenção do espectador e avisar que “vem coisa boa por ali”, “olha onde isso vai parar”, tudo feito de uma maneira protocolar. Graças a deus não há narração, ou o resultado seria pior.


Os integrantes do corpo de balé, todos hoje já idosos, contam para a câmera, um a um, como foram abordados e convidados a participar do grupo. Uns já eram atores de teatro. Outros, modelos fotográficos. Todos foram interpelados por um produtor que fez o sedutor convite, eles aceitaram, então partiram para a Europa e nos detalham as histórias pelas quais passaram no velho continente, que vão desde uma tentativa de fazer feijoada no hotel, ao sexo com europeus facilitado pelo ambiente artístico e ar de exoticismo que eles carregavam.

Brasiliana

A problematização do olhar estrangeiro e fetichismo da mulher e dos homens, aliás, é transpassada de forma ligeira demais no documentário. Isso causa incômodo. Diferente de obras recentes como Black Rio, Black Power, ou mesmo Othelo, O Grande, as discussões políticas e sociais de Brasiliana: O Musical Negro Que Apresentou O Brasil Ao Mundo praticamente se encerram na opinião de dois ou três integrantes que defendem terem sido, na verdade, privilegiados por receberem dinheiro de turnês de uma produção que tinha tantos custos com passagens e hospedagens. Ou na fala de uma outra que rapidamente conta sobre como negou um carro de presente e um pedido de casamento feito por um homem rico (o homem admitiu já ter um relacionamento e filhos). Não há espaço ou questionamentos para que a exploração de um Brasil exótico e idealizado fosse aprofundada ou desenvolvida em nenhum dos personagens do documentário.


A pesquisa um tanto quanto jornalística e de tons acadêmicos se reduz a cabeças falantes de resultados aborrecidos, quando havia um grande terreno sobre desvalorização da mulher, ou sobre o olhar estrangeiro de um país estereotipado, mas que é desperdiçado em favor de histórias banais, ou de um engrandecimento da companhia pelo fato de ter dado oportunidades àquelas pessoas que provavelmente não teriam caso tivessem recusado o convite. Uma pena.


 

Nota: 2/5

nota 2 de 5

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