
Logo de início, Babilônia mostra a energia caótica de uma festa cuja PUTARIA tá rolando e muda o foco pra um set de filmagem na época do cinema mudo onde, bem, a PUTARIA também tá rolando, numa montagem frenética e linda de diretores gritando, atores improvisando (alguns até morrendo) e ajudantes correndo atrás de fazer aquilo que lhes foi pedido. Aquele caos instaurado é bastante efetivo em termos de engajamento do público na trama, e tudo dá certo ao fim das filmagens daqueles personagens: alugam uma câmera de última hora, a grande cena do protagonista é filmada em um take único sob luz natural perfeita e até uma borboleta do nada pousa no ombro dele pra deixar a cena mais romântica.
A grande sacada é que um dos principais motivos para os conflitos que virão a abalar esse sucesso dos personagens é causado justamente pela profissionalização aristocrática do cinema: deixa de ser uma PUTARIA (última vez que escrevo essa palavra, juro) cheia de malucos gritando pra virar algo cuja elite mete o dedo: não dá mais pra mostrar coisas amorais na tela. A bagunça de vários filmes sendo feitos ao mesmo tempo é substituída em um contraste cômico pelo silêncio estressante de um estúdio fechado. O Código Hays chega e o tempo para aqueles personagens começa a cobrar.

Mas esse tempo acaba só para os personagens, afinal o cinema permanecerá vivo, se não em grandes espaços onde as pessoas se reúnem pra assistir ao mesmo tempo os desdobramentos de compostos químicos e elétricos projetados em imagens na "tela prateada", nos arquivos empoeirados de algum HD que serão revisitados de tempos em tempos.
Essa história de ascensão, queda e muitas depravações tem como peças centrais a atriz obstinada e ambiciosa Nellie LaRoy (interpretada por Margot Robbie), o ajudante, faz-tudo e sonhador Manny Torres (Diego Calva) ator experiente e já consagrado Jack Conrad (Brad Pitt, em um papel canastrão cômico que ele já fez algumas vezes, mas que segue funcionando, pode fazer mais). Os coadjuvantes são muitos e incluem uma passagem um tanto quanto desnecessária envolvendo o gângster James McKay (Tobey Maguire), numa descida ao inferno problemática por tentar elevar o nível do choque do que até então tínhamos visto, mas soar menos impactante do que as cenas introdutórias em termos de ritmo.

Por fim, Babilônia era a cidade na qual nasceu o mito da Torre de Babel, uma ideia dos humanos de construir algo tão alto que fosse capaz de alcançar os céus. Deus, irritado com a prepotência desses homens, lança uma maldição que os fazem confundir-se entre novas línguas. O projeto de construção vira uma bagunça, mas também cria culturas diversas, novos pontos de vista e uma pluralidade que não existia antes. Babilônia é Hollywood e a Torre de Babel é o cinema.
Damien Chazelle não faz um filme perfeito, mas consegue de forma competente entregar seu ponto de vista, no qual a indústria é perversa com seus ajudantes de baixo e alto escalão (um animal literalmente caga na cara dos ajudantes no início do filme), no qual a indústria é perversa com o público (o mesmo animal também caga na cara do espectador), dá com uma mão e suga a alma dessas pessoas com a outra mão. Mesmo assim, Manny chora no final porque passado, presente e futuro se misturam num belo amálgama de personagens e histórias. O cinema é venenoso, mas o cinema também é lindo.
Nota: 4/5

a palavra PUTARIA nunca foi tão bem utilizada quanto neste texto
Filme maravilhoso! ❤️