top of page

Lampião, Governador do Sertão | Crítica

Foto do escritor: Messias AdrianoMessias Adriano
lampião governador do sertão

Não há dúvida de que existe uma constante construção de mitologia em torno de Lampião até os dias de hoje. A figura do nordestino que cometeu atos de violência contra diversas pessoas, mas que também conseguia absorver uma legião de seguidores e admiradores por sua força e coragem continua a ser objeto de livros, matérias jornalísticas, obras documentais e ficcionais envolvendo o mais famoso personagem do cangaço. É sob esse contexto que o diretor Wolney Oliveira decide nos apresentar o fruto de 19 anos de trabalho, entre pesquisas, viagens e entrevistas, em forma de documentário.


A obra mistura imagens de arquivo fortes, como as impressionantes provas de brutalidade das decapitações expostas em praça pública, com outras esteticamente belíssimas, muitas em preto e branco oriundas do filme de Benjamin Abrahão, que conseguiu imagens raras de Lampião, Maria Bonita e seu bando, outras com fotogramas colorizados que lembram os filmes de Georges Meliés. A coesão da montagem de Daniel Garcia e Mair Tavares se mostra, por exemplo, quando o filme une a passagem atual de uma missa em homenagem à Lampião com imagens antigas do próprio Lampião e seu bando rezando no meio do sertão.

lampião governador do sertão

Assim como no belíssimo Memórias da Chuva, Wolney demonstra mais uma vez ter a capacidade de encontrar personagens carismáticos, fortes e com boas histórias a contar. Aqui ele explora muito bem os depoimentos emocionados de senhorinhas que falam de um passado doloroso e difícil, com os de historiadores estudiosos e com extensa bagagem sobre Lampião. Da infância de almocreve imerso em um ambiente de violência, à morte depois de anos de perseguição (também imerso em um ambiente de violência), reúnem-se depoimentos por vezes conflitantes.


E digo isso como elogio, pois é na controvérsia que Lampião, Governador do Sertão encontra o seu maior mérito. O documentário vai de uma entrevista sobre morte injusta do pai de Lampião, a outra pessoa dizendo que fora o próprio Lampião quem matou o pai. De falas nas quais o cangaceiro é descrito como um homem justo, que só matava quem mexesse com ele, a outra pessoa afirmando convictamente que ele assassinava qualquer um cujo mandante pagasse uma boa quantia de dinheiro. Até a dúvida se ele bebia ou não bebia uísque White Horse se transforma em um debate acalorado que, junto com Lampião fazendo publicidade gratuita de um remédio que virara fã, constitui uma das mais divertidas passagens da obra.

lampião governador do sertão

História oral e método acadêmico se misturam em um embate curioso. Nas escolas, pinta-se Lampião como figura folclórica. No exterior, chegou a ser citado algumas vezes pelo The New York Times e por importantes veículos da mídia francesa.


A pecha de “bandido ou herói”, os crimes, fugas e polêmicas sempre permearão obras e análises de Lampião. por mais que a família tente defender com unhas e dentes seu legado por um viés compreensivo. Esse “bandido social” que, quer queira, quer não, deu voz ao sertão.


Rico em conteúdo e forma, o documentário não fornece respostas de bandeja, deixando para o espectador a conclusão se seu protagonista era bandido ou justiceiro social.


Ou bandido e justiceiro social.



 

Nota: 4/5

nota 4 de cinco


5 visualizações0 comentário

Posts Relacionados

Ver tudo

Comments


bottom of page