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Linda | Crítica

Foto do escritor: Messias AdrianoMessias Adriano

Atualizado: 1 de jan.

Linda filme argentino

Como um besouro na água da piscina, ou uma formiga em um copo d’água, imagens que se entrecortam com as de uma mulher caminhando ao local de trabalho na abertura deste filme argentino, a personagem-título Linda (China Suárez) chega na família abastada para causar um certo incômodo. Contratada como empregada doméstica para cobrir a ausência de uma prima, a protagonista é a principal força desta obra, que vai se revelando pouco a pouco em um exercício de bastante esmero artístico e narrativo.


O corpo e beleza de Linda chamam atenção dos que na casa habitam. A patroa sugere e entrega um uniforme quase como protocolo, mas a nova contratada recusa gentilmente ao dizer, no segundo ou terceiro dia de trabalho, que sequer experimentou.


Mas curiosamente, a falta de uso do uniforme não se torna uma questão de discussão na família, a matriarca diz que está tudo bem. Não há ciúmes descontrolados, filhos chatos, ou personagens de arquétipos planos. Todos são gentis com a nova empregada, tratando-a bem e com cortesia. E Linda segue usando camisetas de alça decotadas.


O charme da mulher atinge a todos da família (todos mesmo). O ser estranho ao ambiente gera uma faísca de perturbação à ordem que paulatinamente vai se tornando maior e mais envolvente, mas nunca inverossímil.

Linda filme argentino

Grande parte desse envolvimento vem da competência da direção de Mariana Wainstein, que faz questão de destacar as expressões dos personagens durante certos flertes. Trabalham-se os planos abertos e closes de forma a revelar os desejos íntimos (sexuais ou não) daqueles personagens.


Segura de si, Linda frequentemente encara alguma das investidas com bastante seriedade, sem sorrisos ou simpatia nervosa quando assim deseja. Nesse sentido, os closes se mostram adequados, para vermos as expressões mínimas da atriz estabelecendo um limite sem dizer uma palavra, ou o definhamento de um homem que fica constrangido ao perceber que seu flerte foi por água abaixo.


Assim como ajudam em pequenos momentos de intimidade que o filme propõe, como Linda ajudar a filha adolescente a pintar as unhas. Cada vez mais nos aproximamos daqueles personagens, inclusive em termos de linguagem cinematográfica, por conta dos planos fechados, que além de tudo, também transfere a sensação de aprisionamento.

Linda filme argentino

O choque de classes acaba sendo ressaltado de forma explícita em alguns diálogos. “Por que você não muda de vida? Você pode fazer o que quiser.”, diz uma personagem, alheia ao fato de que as pessoas que não fazem parte da alta sociedade precisam trabalhar para se sustentar a si e a própria família, e que esse trabalho vai tomar todo tempo disponível na vida delas.


A desestabilização do cotidiano social é carregada de forma instigante por uma protagonista que sabe o que quer e que decide de forma autônoma o que faz da vida, numa ode à liberdade feminina. A diferença de tratamento entre os sexos fica clara, tendo em vista que as mulheres são retratadas no filme como seres cautelosos, delicados e elegantes, que esperam o melhor momento para tomar atitudes, enquanto os homens são figuras patéticas, estúpidas e que frequentemente se veem na posição e na liberdade de fazer ou dizer o que querem, por mais indelicados e desrespeitosos que possam ser.


De forma trágica e cômica, a autoridade é retomada por aqueles que a detém. No entanto, Wainstein deixa claro que a casa vai voltar pra merda, e, mais importante, que Linda é a única capaz de enxergar a origem daquela sujeira, em um simbolismo dos mais elegantes.


 

Nota: 4/5

Nota 4 estrelinhas de 5


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