
Para cada Jennifer Lawrence brilhando com um ótimo timing cômico em Que Horas Eu Te Pego da vida, há 20 filmes de comédia com Adam DeVines se esforçando pra ser engraçado enquanto dança balançando a bunda. Isso ocorre já nos primeiros minutos de projeção, momento no qual a nova produção da Netflix mostra a que veio e que o espectador pensa: “lá vamos nós”.
Owen Browning (DeVine) é o típico homem infantilizado e bobão. Ele prepara uma maquete com bonecos de personagens conhecidos para o próprio casamento, dá gritinhos finos quando está animado ou com medo e, por não ter o costume de beber, se embriaga facilmente até falar (mais) bobagens ainda. Aliás, se você está fazendo um filme e quer mostrar alguém metódico e/ou chato, dê a ele um emprego sacal, como gerente de banco, e faça ele aparecer passando fio dental (as duas coisas ocorrem aqui). Essa vulnerabilidade poderia ser uma aliada na construção de um personagem doce, mas, diferentemente disso e por conta dos exageros propostos, o desenvolvimento do protagonista aqui vai mais para o lado do irritante do que para o carismático, de um cinema que parece buscar audiências também infantilizadas.

Ele e sua noiva Parker (Nina Dobrev) estão nos preparativos finais para o casamento. Assim como as piores comédias de Adam Sandler (cuja produtora Happy Madison assina o filme), ele vai casar com alguém que certamente não namoraria com ele pela aparência física na vida real, mas, no filme, a relação é justificada por seu “grande coração”. Billy e Lilly, os pais da noiva, decidem aparecer de surpresa na semana anterior ao casamento, mas o comportamento dos dois leva Owen a desconfiar que são criminosos procurados, assaltando inclusive o próprio banco no qual o protagonista trabalha.
Pierce Brosnan já mostrou que possui uma boa veia cômica como ator principal em O Matador (2004) e que pode ajudar como um coadjuvante divertido em Festival Eurovision da Canção (2020). Aqui, ele só justifica a presença pela tirada sobre o quinto ator que faz James Bond ser um bom James Bond (ele mesmo, rá). No restante do filme, o potencial do ex-007 está desperdiçado com falas gritadas e excessos desproporcionais. Nina Dobrev está triste. E eu digo triste mesmo, quase depressiva, como se estivesse participando de um outro filme ou com dificuldade de articular as palavras, talvez ela não esteja bem de saúde.

Criar situações que vêm do inesperado é o básico de quem faz humor. Palhaços divertem crianças com escorregões e tortas na cara porque aquilo, para os pequenos, é inesperado, é novo. A quebra de expectativa em Meus Sogros Tão Pro Crime, no entanto, nunca ocorre. O filme todo é tomado de cenas previsíveis: é claro que alguém vai aparecer quando o personagem está cantando sozinho com uma voz fina na cozinha. Nós já vimos mil vezes uma pessoa virar um copo de bebida alcóolica após ouvir uma fala desconcertante. Em termos de linguagem, a direção de Tyler Spindel é pobre e sem ousadias: drones em planos aéreos nas cenas de perseguição e conversinhas filmadas só com plano/contraplano sem graça, assim como as piadas do roteiro.
Nem drama, nem comédia funcionam aqui. Do início ao fim, o filme usa estratégias batidas para trazer leveza, como encerrar com uma música alegre e todo o elenco dançando pra tentar incutir no espectador a ideia de que ele viu um filme divertido. Mas não. O que vimos foi uma bobagem estragada, uma representação do que há de mais triste nas comédias contemporâneas.
Nota: 1/5

Incluindo aqui na lista do não assistir 😅