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Pearl

Foto do escritor: Messias AdrianoMessias Adriano

Atualizado: 29 de nov. de 2024


Quando anunciado que X – A Marca da Morte ganharia uma prequela, a notícia pegou muita gente de surpresa. Isso porque o filme sequer havia estreado oficialmente e o diretor Ti West já havia feito a confirmação da sequência e planos para um terceiro filme, algo que, para filmes de orçamento limitado e que não necessariamente possuem a certeza de serem blockbusters, vai na contramão do mercado, que sempre espera para saber o resultado e fazer apostas seguras.


Mas que bom que Ti West tem seus contatinhos na indústria. Muito além de um slasher do tipo “quanto mais mortes, melhor” e sem substância, Pearl cumpre muito bem o papel de aprofundar-se na história da personagem-título. Se em X - A Marca da Morte, já poderíamos ter um gostinho do que velhinha Pearl poderia ter passado, neste filme o diretor e roteirista se aproveita não só do talento de Mia Goth (com quem também divide créditos de roteiro), mas usa elementos como design de produção ou figurino para ajudar a contar a história.


É bacana perceber, por exemplo, como o crucifixo permeia o mundo de Pearl. Essa representação do cristianismo está espalhada por diversos cômodos da casa e em objetos que não necessariamente foram construídos para serem terem teor sacrossanto no mundo em que a protagonista vive, mas certamente feitos para que o espectador perceba a semelhança e faça as conexões, mesmo que inconscientemente. Exemplos disso são a cruz na qual o espantalho é apoiado e retirado no meio do milharal, ou da roupa de uma das juradas da performance de Pearl no final, que traz no colarinho branco a lembrança do símbolo. Na cena do espantalho, inclusive, não custa lembrar que ela escala e sobe na cruz, retira o espantalho do local e o “desonra”, digamos assim, uma atitude que pode ser interpretada como o desejo da personagem de ir contra àquelas tradições sendo externado.



O figurino e direção de arte usam as cores de forma inteligente para transparecer o arco da protagonista. No início, presa à casa e aos “bons costumes” que lhe são impostos pela mãe, Pearl é cercada pelo azul: além das paredes do quarto serem dessa cor, a principal roupa da garota é composta por uma camisa azul, juntamente de um macacão azul e, em uma cena, ainda coloca na cabeça um lenço azul.



Em oposição, os corredores que levam à saída da casa são tomados pelo vermelho, que podem simbolizar o desejo e o perigo daquela decisão. Não à toa, o vestido e maquiagem que Pearl escolhe para fazer sua apresentação são da cor vermelha, mas sua maleta na cena, azul. Estaria ela ainda com um pé naquela realidade moralista?


Levando em conta tudo isso e a luta de Pearl para fugir das cruzes que ela carrega, faz muito sentido que o local escolhido para a protagonista fazer a audição que pode lhe render a saída daquela realidade seja justamente uma igreja opressora. Assim como faz muito sentido que, em sua apresentação, Pearl dance de forma onírica em meio aos horrores da realidade que nos são mostradas ao fundo: guerra e bombas em meio a danças escapistas e fogos de artifício (olha só, eles explodem nas cores vermelha e azul). Para fechar o arco, quando vai pedir “perdão” à mãe no terceiro ato, a roupa que a genitora está usando quando a abraça é um vestido… Azul.


E então “monta-se” (entre aspas mesmo) a família perfeita. Põe-se o jantar à mesa e Pearl está oferecendo suco. De camisa e macacão na boa e velha cor azul.



 

Nota: 4/5


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