15º Curta Canoa (2025) – Dia 1
- Messias Adriano

- há 5 dias
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O Festival Curta Canoa exala muito bem a receptividade da praia de Canoa Quebrada no local de suas exibições principais. Na quadra esportiva da praça, monta-se a grande tela e, em meio a curiosos transeuntes e turistas que entram e saem do local acanhados, o público infantil que brinca ao redor da quadra abre espaço nos seus afazeres descompromissados pra também se divertir e parar para assistir aos filmes que ali são projetados.
Não à toa, as primeiras exibições são justamente as da Mostra Infantil. No caso do primeiro dia de cobertura, A Menina da Serra (Dir. Cleyson Gomes/PB) e A Travessia (Dir. Sergio Martinelli/SP) representam conjuntamente um cinema mais didático possível. O primeiro possui um ar que lembra à distância algumas produções do Estúdio Ghibli, não só pelo traço, mas também pelos próprios trajes que Edinete, a protagonista, utiliza, algo parecido com um kimono (o que não deixa de ser um tanto estranho, tendo em vista que ela vive aparentemente no sertão nordestino). Já o segundo se assemelha aos vídeos educativos exibidos em escolas ou patrocinados por governos que objetivam ensinar sobre o meio ambiente e os perigos da ação do homem. Nada marcante.
A qualidade melhora quando tratamos de Almadia (Dir. Mariana Medina/CE). A projeção já se inicia dando vazão às possibilidades que o cinema de animação tem de melhor: a de fugir de uma estética calcada no real e abraçar o onírico. As transições da montagem remetem ao vento que leva a areia da praia nesta trama sobre uma família que tenta sobreviver do que o mar traz. As sequências são muito bem embaladas pela trilha um tanto quanto psicodélica das cordas de Fernando Catatau, que dá àquela família e ao espectador a sensação de sonho com final poético.
Já algo mais parecido com um pesadelo é o que ocorre em A Menina e o Seu Pássaro (Dir. Lu Antunes/SC). Não obstante à bela direção de arte que reimagina o rosto, quarto e janelas coloridas do mundo da menina sob o belo texto de Rubem Alves, há algo de muito incômodo em ver uma criança com tranças dividir uma cama e toques físicos com um pássaro de barba e peito cabeludo. Um adulto. Estaria este crítico sendo moralista e tendo uma visão estreita demais do curta? Questões a se refletir.

Outro tipo de incômodo ocorre ao assistir Griôs do Litoral (Ivina Oliveira/CE). O documentário, que retrata a história de marisqueiras e pescadores de Paraipaba/CE, tem nas mãos protagonistas cujas histórias poderiam muito bem resultar em uma obra mais competente e envolvente. No entanto o filme prefere o caminho das entrevistas sem muita substância e de uma linguagem semelhante à televisiva, com cortes em cima das falas das cabeças falantes que deixam tudo muito maçante.
O representante internacional da noite foi Babilônia (que não é o do Damien Chazelle, mas sim uma coprodução Brasil e Cuba dirigido por Duda Gambogi). Curioso recorte do mundo drag cubano, chama atenção pela competência técnica na trilha de suspense que nos leva por entre os corredores da pequena boate onde a protagonista Elizabeth de Victoria irá se apresentar. Rejeitada pelas colegas, o filme pode até ser visto como uma espécie de Ru Paul’s Drag Race Cuba, dadas as intrigas (ou shades) desveladas entre as profissionais que ali se apresentam. O lipsync do final em plano-sequência pode até chamar atenção pela virtude técnica, mas o que marca é o amanhecer na saída da boate, quando tudo volta ao cotidiano (será que tudo volta mesmo)?
Acompanhem a cobertura dos próximos dias do 15º Curta Canoa aqui no Tardes de Cinema.







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