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A Meia Voz | Crítica

Foto do escritor: Messias AdrianoMessias Adriano

Atualizado: 25 de out. de 2023



Imagens sobrepostas, sons ininteligíveis de pessoas falando, prédios antigos e gravações de arquivo envelhecidas. O contrataste desses primeiros segundos do documentário A Meia Voz vem com imagens em altíssima definição, quase iguais às que passam nas televisões expostas à venda em lojas de shopping.


Procuro uma imagem“, diz uma das interlocutoras logo no início. Pouco a pouco, vamos descobrindo que o filme conta a trajetória de duas cineastas cubanas, Patricia e Heidi, o que as uniu e as circunstâncias que as separaram.


Não há letreiros, ou entrevistas. Como abrir uma boneca russa, a cada passo que o documentário dá, mais se descobre sobre aquelas pessoas, o que faziam, como se separaram, tudo por meio de uma charmosa troca de correspondências por vídeo. Ambas moravam em Cuba, até que para uma surgiu a oportunidade de ir à Europa. Ilegalmente e sem avisar, Patricia decidiu ficar pelo velho continente como imigrante ilegal. Anos depois, foi a vez de Heidi sair da ilha e tentar a sorte em outras terras.



Os contrastes permeiam todo o filme: a frieza de um centro urbano contraposta à beleza do natural. Um rio cujas águas esverdeadas encontram águas azuis. Janelas de um grande e antigo prédio fechadas justapostas por fotografias de janelas de um barracão com pessoas olhando o movimento da rua.


É sempre instigante saber o que acontecerá com cada uma. A fluidez da montagem ajuda no processo de dar um ritmo nunca cansativo, mas que sempre atiça a curiosidade do espectador: imagens de Patricia e Heidi se divertindo no passado são combinadas com as incertezas atuais da vida de ambas.


No entanto, o que mais atrai no documentário é o tom confessional de segredo, de sussurro de uma intimidade que revela um labirinto de dúvidas, inseguranças, pedidos de ajuda e declarações de uma para outra. Como numa sessão de terapia na qual ambas funcionam como paciente e psicanalista, o texto possui uma força magnética que, unido ao simbolismo das imagens, entregam a real beleza do filme.


Num misto de conforto e melancolia, A Meia Voz se encerra. As experiências dolorosas trouxeram tristezas, mas também um autoconhecimento necessário à felicidade. Ambas descobriram várias mulheres que haviam dentro de si, algo que talvez jamais tivesse acontecido tivesse a vida tomado rumos diferentes.


A busca pela imagem não se encerra. E se encerrará algum dia? Talvez a dica seja justamente seguir buscando. Buscando, vivendo e filmando.


*Texto publicado originalmente em dezembro de 2020 no site Canal Claquete, em cobertura do Festival Cine Ceará.


 

Nota: 4/5


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