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  • Foto do escritorMessias Adriano

A Mulher Selvagem | Crítica

Atualizado: 13 de abr.


Yolanda (Lola Amores) olha para o filho

A primeira imagem que A Mulher Selvagem proporciona ao espectador é a da protagonista em uma festa enquadrada por um corredor estreito, mas dançando de forma solta, louca e livre. Em um único e bonito plano longo, a câmera se aproxima da dançarina feliz e vai automaticamente se livrando das paredes, mostrando apenas aquela mulher não mais presa simbolicamente, mas se movimentando de forma desprendida.


Mas algo deu errado. E sabemos disso porque o corte seguinte mostra a mesma pessoa com um braço enfaixado cercada por construções em ruínas. O que vem a seguir é uma sucessão de dúvidas: o que aconteceu? Quem mora na casa que ela invade? Aliás, qual será mesmo o conflito do filme? Como um mágico que cobre com um pano sua revelação, o diretor Alán Gonzáles esconde, nunca explicita nada, e isso é importante para manter o engajamento de quem assiste.


Yolanda (Lola Amores) olha para trás.

A mulher que acompanhamos é Yolanda (Lola Amores), que em determinada noite se envolve em uma briga e precisa lidar com as consequências da confusão no dia posterior. O objetivo da mulher do título é encontrar o filho pré-adolescente para poupá-lo da repercussão, mas aparentemente todos já estão sabendo do ocorrido por causa da velocidade com qual o vídeo da briga viraliza no WhatsApp do universo do filme. Todo mundo está sabendo, exceto o espectador.


Corroborando com essas dúvidas e essa busca, a câmera quase sempre acompanha Yolanda de costas, caminhando entre construções velhas, precárias e sujas de uma região pobre de Havana. O quadro que na primeira metade do filme frequentemente trepida em situações de conflito físico, como na briga entre Yolanda e outra mulher, dá espaço na segunda parte para composições mais calmas e simbólicas, como a de um playground num dia cinza ocupado somente por uma criança triste que não brinca. Os corredores estreitos prendendo a protagonista entre paredes permeiam o filme não só na casa da abertura, mas também nas escolas e hospitais que Yolanda visita.


Yolanda (Lola Amores) presa entre paredes.

Ainda há na obra um certo discurso sobre oposição entre passado e presente. Mãe e filho conversam sobre jogos de videogame, Atari e Playstation, brincadeiras clássicas como amarelinhas e jogos contemporâneos de sucesso como Call Of Duty. Frequentemente, vemos pessoas no filme usando o celular e filmando o que ocorre ao redor. Se a briga que inicia o conflito do filme tivesse ocorrido há mais de vinte anos, quando as informações não corriam de forma tão explícita e tão rápida, provavelmente as consequências não seriam tão radicais como as que ocorrem aqui.


No entanto, tudo isso está disposto de forma um tanto quanto superficial e solta em A Mulher Selvagem. É bom que determinadas ações e consequências fujam do explícito, mas a partir do momento que uma trama envolve a relação familiar entre mãe e filho, também seria bom desenvolver um pouco mais esses laços. Como isso não ocorre, o filme passa de um furor inicial e vai dando espaço a um carinho, mas um afeto que aparenta ao espectador ser ainda muito distante.


Ainda assim, é curioso e prazeroso perceber que há um cuidado estético na obra que acompanha toda a narrativa: ao final, os corredores dão espaço a uma rua aberta onde vemos Yolanda e o filho de frente. É a mulher selvagem do título que tanto quis defender sua prole.


 

Nota: 3/5


Cotação: 3 estrelas de 5.

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