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Baby | Crítica

Foto do escritor: Messias AdrianoMessias Adriano
Baby Filme

Cicatrizes literais e figurativas estão presentes no personagem-título deste filme de Marcelo Caetano. Na cidade de São Paulo, após ser liberado de um centro para menores infratores e se ver abandonado pelos pais, Wellington (João Pedro Mariano), que posteriormente será batizado “Baby”, é atraído por Ronaldo (Ricardo Teodoro) ao mundo da prostituição e dos delitos relacionados ao tráfico de drogas.


Ronaldo é um homem na casa dos 40 anos, Baby é um jovem de 18. Baby precisa de dinheiro e se vê sem ter para onde ir, Ronaldo sobrevive como pode, mas parece conseguir organizar minimamente seus relacionamentos afetivos e questões financeiras. A diferença de idade e circunstâncias desse primeiro encontro no cinema pornô gera uma expectativa de que talvez um pudesse se aproveitar do outro.


Nenhum dos dois, no entanto, parece querer fazer isso. Sob um olhar sempre respeitoso para com a relação de amor e companherismo dos dois, o filme jamais tenta vilanizar este ou outro personagem da trama, fugindo da concepção maniqueísta do bem e do mal e transitando de maneira fluida entre tais conceitos, o que o faz ter predileção por focar na complexidade daqueles homens incompletos.

Baby Filme

Existem no filme composições imagéticas elegantes, como Baby isolado e diminuto no segundo andar de uma construção arquitetônica imponente ao procurar o salão de beleza da mãe, ou o jovem girando em uma plataforma de estacionamento ao conversar com um amigo, ou mesmo a incômoda luz de uma moto por alguns segundos antes de uma cena tensa envolvendo a polícia. Todas conversam, de certa forma, com alguma questão emocional do protagonista por meio da linguagem cinematográfica.


Esses e muitos outros exemplos fazem do longa de Marcelo Caetano um exemplar do cinema queer atento aos detalhes. Some-se a isso o fato de que todo o elenco se apoia bastante e de forma acertada no naturalismo dos diálogos, como repetir alguns vícios da linguagem oral (“A gente já comeu, já.”), ou até mesmo ao colocar personagens falando por cima de outros (“Pega uma cadeira e senta” ser interrompido pela pergunta ”Nosso filho parece mais com quem?”, quando Baby visita o apartamento da ex-mulher de Ronaldo).

Baby Filme

No entanto, a relação contrastante e convergente entre os protagonistas é o fio condutor e o destaque da narrativa. A união entre uma pessoa com juventude já calejada e sofrida com outra que possui a experiência para a se adaptar, da brutalidade e força do boxe com a leveza e liberdade das danças performáticas. É o amálgama que une Baby e Ronaldo, assim como a ambiguidade que se transforma em choque no desenrolar da trama.


A imposição de Baby para fazer o que bem entender vai cada vez mais sendo compreendida por Ronaldo com resignação e aceitação. Caminha-se de uma rejeição inicial a ponto de arranjar briga na rua, ao total entendimento da liberdade que o outro precisa na cena de encerramento. Talvez por isso “Baby” seja o título perfeito, por atrair a ideia tanto da juventude e inexperiência, quanto do carinho que a palavra carrega e que faz com que a relação entre os dois seja tão bela.


 

Nota: 4/5

Nota 4 estrelinhas de 5


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