Bugonia | Crítica
- Messias Adriano

- 26 de out.
- 3 min de leitura

Os filmes do diretor grego Yorgos Lanthimos quase sempre possuem como característica um grau de imprevisibilidade e estranheza que fascinam. Seja no excelente Pobres Criaturas, ou nos sombrios O Sacrifício do Cervo Sagrado e Dente Canino, Lanthimos põe seus personagens em situações absurdas com uma "naturalidade de se estranhar", se é que isso seja possível. O problema é quando a conexão com esses personagens ou com as situações pelas quais eles passam começa a não ser tão forte assim..
Baseado no filme coreano de 2003 Save The Green Planet!, Bugonia inicia a narrativa sustentado por uma teoria da conspiração. Teddy Gatz (Jesse Plemons) se une a Don (Aidan Delbis) no plano para sequestrar a bem-sucedida CEO Michelle Fuller (Emma Stone). Isso porque Teddy tem certeza que Michelle é, na verdade, um alienígena invasor capaz de tornar pior a vida no Planeta Terra, ou mesmo destruí-lo.
Os aspectos técnicos diferenciam dois mundos pelo contraste. A fotografia de Robbie Ryan ilumina a casa que Teddy divide com Don com luzes âmbar e quentes, e enquanto tanto a empresa ou mesmo a casa de Michelle possui tons azulados, frios e impessoais. A diferenciação também é explicitada pela montagem, que faz questão de sair de ambientes imponentes, repletos de vidros e arquitetura grandiosa, para farmácias e lojas periféricas de baixo padrão, nas redondezes de onde Don e Teddy vivem.

Sempre instigante, a todo momento nos perguntamos para onde a narrativa de Bugonia vai nos levar, flertando inclusive com o horror. As cenas de crueldade escalam no grafismo, mas é curioso que o asco e a angústia sejam mais efetivos na passagem na qual apenas ouvimos gritos e uma música alta perturbadora do que quando o sangue se faz mais presente espalhado nos cômodos e mesmo nas pessoas. O gore aqui não se sustenta quando mostrado, sendo a angústia melhor aproveitada quando imaginada, quando ocorre fora do quadro.
Em uma interpretação soberba, Emma Stone dá vida à Michelle como uma personagem inteligente e segura, essencial para o desenvolvimento da narrativa (e algumas atitudes ficarão mais claras ao final do filme, inclusive). Negociadora nata, Michelle se adapta às situações de forma eloquente e muda estratégia a ponto de aceitar como verdade a história absurda que Teddy lhe conta quando vê que o caminho anterior de ameaças não funcionou.
Já Jesse Plemons, igualmente competente, constrói seu Teddy como um homem hesitante, que se desespera facilmente com as situações pelas quais o próprio personagem é responsável. Pudera, tendo em vista que o plano e a execução do esquema talvez sejam o acontecimento mais grandioso da vida daquele homem até então.

Entendendo a importância de tais ações, Jerskin Fendrix compõe uma trilha com passagens grandiloquentes, mesmo quando o personagem está apenas pedalando na bicicleta ou coletando mel das abelhas. Para o mundo exterior, essas atividades podem ser banais. Para Teddy, aquilo faz parte da construção do maior acontecimento de sua vida, daí o sentimento interno ser representado com pompa pela música.
No entanto, por mais que ande longe de ser maçante ou aborrecido, o universo estranho que Lanthimos constrói deixa um gosto agridoce na boca. Talvez pelas reviravoltas não tão inesperadas assim no terço final, ou talvez por faltar aos personagens o aspecto dramático que tanto funcionou em suas outras obras, ou mesmo por sua crítica ambiental difusa e cambaleante. Bugonia finda por ser o desenvolvimento menos marcante na filmografia do diretor, mas ainda assim, satisfatório.

Nota: 3/5







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