Esta Isla | Crítica
- Messias Adriano
- 24 de set.
- 2 min de leitura

Bebo (Zion Ortiz) é um adolescente cuja família passa por dificuldades financeiras, assim como toda a comunidade na qual vive, em uma região costeira de Porto Rico. Dividindo a rotina entre o trabalho e a família, especialmente o irmão mais velho, o jovem se vira como pode até que, após entre árduo esforço e pouco pagamento, começa a flertar com tráfico de drogas.
Em termos de agressividade, a direção de Lorraine Jones e Cristian Carretero em Esta Isla utiliza bem a ameaça iminente por meio de da mise-en-scène: enquanto um grupo de traficantes treina com armas em um campo aberto, no primeiro plano vemos Bebo e um dos chefes do tráfico conversar. Com os rumos da conversa ficando cada vez mais hostis, os homens com as grandes armas saem do fundo e se aproximam daqueles que conversavam.
No entanto, a sutileza se faz exceção e abre espaço para uma violência que remete a uma espécie de “favela-exploitation”: ângulos tortos, tiroteios, rivais que atacam, aliados que planejam vingança, tudo muito exageradamente ligado a um cinema que aprovietará a brutalidade da pobreza, o espetáculo dos marginalizados.
Então entra em cena Lola (Fabiola Brown, uma mistura de Bruna Marquezine e Giovanna Grigio). A adolescente rica inicia um romance com Bebo e podemos até desconfiar que a relação será exploratória ou fetichista, mas os rumos tomados pelo desenvolvimento do jovem casal ensaia algo com mais substância.
Existe um interesse sincero entre os dois. Assim como Bebo (mas com uma piscina para afogar as mágoas), Lola também sofre com traumas do passado e um sentimento de aprisionamento. Os close-ups nos rostos e alguns aspectos da caracterização, como as frequentes tranças em Lola, sublinham a inocência dos personagens e o quão injusto pode parecer aqueles dois, tão jovens, estarem tão perdidos em suas vidas de sofrimento.
A montagem faz questão de contrapor ambientes e situações: vamos de um quarto sujo e apertado da família de Bebo, para piscinas amplas e iluminadas de Lola e seus amigos. Saímos de um barco pesqueiro insalubre no qual Bebo trabalha, para um carro de golfe onde Lola tenta se divertir com seus pares.

Lentamente, o filme se transforma em curioso um tratado sobre a colonização, um passado ligado aos dois que levou a um presente quebrado. Ambos em determinados momentos manifestam o desejo de ter “outra forma de viver”. Tentam fugir daquilo que lhes aprisiona, encontram um pertencimento fugaz em uma comunidade rural que tudo compartilha (não só banana ou mel, mas também afeto).
Mas faz isso de forma deveras arrastada e por vezes aborrecida. O sofrimento de Lola é verborrágico: “Você diz que eu nunca trabalhei, mas não foi você que teve trauma x, não foi você que teve trauma y.” São tantas as relações desenvolvidas (família, Lola, comunidade rural, traficantes) que por vezes privilegia-se muito mais uma em detrimento da outra, até voltarmos para a que estava esquecida, em idas e vindas que soam intermináveis.
Lola e Bebo representam os filhos de um capitalismo e colonialismo exploratório, resultados do que houve com Porto Rico e possibilidade do que poderia ter sido. No entanto, não surpreende que o projeto tenha sido baseado em um curta. Talvez Esta Isla funcione melhor com muitas das suas arestas aparadas.

Nota: 2/5
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