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Gravidade | Crítica

  • Foto do escritor: Messias Adriano
    Messias Adriano
  • 21 de set.
  • 3 min de leitura
Gravidade crítica
Apocalipse dos próximos

Em Gravidade, uma espécie de repórter anuncia no rádio e no celular que uma tempestade solar causará seis dias de escuridão. O locutor cita em tom estranho que a “suposta notícia” vem “supostamente da NASA”.


É sob essa ameaça (supostamente) universal que Nina (Hermila Guedes), Sydia (Clarisse Abujamra) e Joana (Marcélia Cartaxo), mãe, filha e empregada, três mulheres diferentes e conflituosas em suas personalidades, convivem na mesma casa, uma mansão que outrora tinha vista pro mar, mas agora é situada ao lado de um viaduto barulhento. Ao mesmo tempo, uma fenda misteriosa cresce na parede da cozinha, Nina crê que o fenômeno noticiado vai fazer a "gravidade acabar" e as três mulheres precisam lidar com a chegada inesperada da desconhecida Lara (Danny Barbosa) o que aumenta a gravidade (rá!) das situações.


Quase nada se explora do ambiente externo à casa. Pudera, pois desde o início percebe-se que o conflito do filme se dará no âmago do ser daquelas mulheres, servindo a mansão como metáfora de um microcosmo do apocalipse. O que é externo é desconhecido, escuro e misterioso. Internamente, a direção de arte faz questão de pontuar que a mansão parou no tempo: piano, castiçais, e cadeiras em estilo antigo dão o tom empoeirado do local, enquanto Sydia se embriaga para encarar o fim do mundo e Nina busca explicações ora científicas, ora esotéricas para tudo o que ocorre.


gravidade crítica

A direção Leo Tabosa, em seu primeiro longa-metragem, privilegia planos estáticos e longos, com a câmera presa. Uma das poucas vezes em que a câmera gravita (rá) de maneira suave vem em um momento significativo no terço final, onde os conflitos chegam a um ponto de resolução. Por mais que se movimente pouco em seus quadros, o tom da obra é invariavelmente pomposo. Sem respiros, o texto dos diálogos faz questão de destacar as contínuas rusgas entre Nina, Sydia e Lara, mãe, filha e desconhecida, com Joana funcionando como uma espécie de anteparo à problemática do trio, agregadora que tenta solucionar o que corrói. Entre as três, é tudo muito grave (hum... Rá?).


No entanto, incômodo em Gravidade vem não da situação em si vivida por aquelas mulheres, ou pela troca de farpas constante, mas pelo tom pesado que é insistentemente empurrado goela abaixo em seus símbolos de um cinema cansativo. Pisca-se várias vezes para o público: o mar que seca, a mulher que vomita peixinhos dourados (e que para em frente a um quadro de peixe e ficamos lá por 5 segundos), imagens de quadros representando o apocalipse.


Esse tom solene também é sublinhado pelo som. Por mais que as belas melodias de João Victor Barroso isoladamente se mostrem belas e criativas, o som ambiente da casa, quando não está invadido por buzinas de automóveis ou pastores pregando da rua, é permeado barulhos insistentes de notas graves ("rá" de novo).


O Cineteatro São Luiz nunca esteve tão bonito como aqui, fotografado por Petrus Cariry, diretor da pequena obra-prima A Praia do Fim do Mundo, um filme também pesado e de tom solene, mas que é muito mais bem resolvido em termos de condução narrativa. A beleza das imagens espelhadas também poderia representar um vislumbre intrigante capaz de gerar de interpretações diversas, mas tudo isso é jogado fora por conta da insistência do tom cerimonioso, com próclises repentinas e robóticas vindas em momentos de raiva (“você a soltou. você nem a conhece.”) e falta de tato ao provocar momentos involuntariamente cômicos: uma personagem segura uma faca em riste o tempo todo, inclusive quando está conversando sem tom de ameaça. Outra empurra alguém muito maior que ela como se estivesse empurrando balão de festa, sem nenhuma violência num momento cuja força era fundamental.


Gravidade crítica

Com decisões que gritam “mamãe-quero-chocar”, Gravidade soluciona-se não só pela gravidez (rá... ok, parei) que gera o impacto de Taubaté (falso), mas chega ao fim com a força-frágil construída sobre bases flácidas de identificação com personagens e construção de universo decepcionante. Não fosse por Clarisse Abujamra (cujo rancor destilado para com a filha vem acompanhado de uma voz grave e postura ameaçadora cortantes e amendrontadoras), ainda bem que, ao final, a promessa do início finalmente chega: (a) Gravidade acaba.



Gravidade crítica

Nota: 2/5

1 comentário


Milena Moura
Milena Moura
21 de set.

Muito bom!!

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