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Jojo Rabbit

Foto do escritor: Messias AdrianoMessias Adriano

Atualizado: 27 de abr. de 2023


Jojo Betlzer é uma criança fofa, mas que foi seduzida pelo discurso glorificante e nacionalista de Adolf Hitler numa Alemanha prestes a perder a guerra. Por lhe faltar a consciência do que tudo aquilo significa, Jojo é engolido pela “nazimania”, num paralelo muito bem humorado que o filme faz na abertura, ao juntar imagens de apoio ao regime nazista junto da música “I Wanna Hold Your Hand” cantada em alemão.


O humor, inclusive, vem em grande parte do timing cômico do diretor/ator Taika Waititi interpretando o próprio Führer, a pessoa que talvez mais tenha cometido selvagerias contra a humanidade na história recente, como alguém, quem diria, divertido. Mas o personagem e suas atitudes apenas têm graça porque sabemos que aquela é uma perspectiva infantil de uma criança que idealizou um herói e que não percebe (ainda) o erro que está cometendo. Por isso rimos quando Hitler pergunta “você é o meu melhor nazistinha” ou manda um “say whaat” pra encorajar Jojo a ir ao treinamento. Não é a nossa visão.


É bonito ver que o filme proporciona detalhes que potencializam essa construção dos personagens, como a inocência no olhar, no sorriso e nos gestos de Jojo durante o acampamento: o primeiro instinto dele ao pegar um coelho é acomodá-lo nos braços e fazer carinho. Quando lhe pedem pra matar o bichinho, ele não consegue, todos zombam dele, mas o diretor dedica um tempo considerável na risada das meninas mais velhas, atacando o ponto fraco de qualquer garoto que quer impressionar quem está ao seu redor.



O que se une ao fato de o principal ponto de conflito do filme ser justamente uma garota mais velha. Jojo encontra Elsa, uma menina judia, escondida no quarto de sua falecida irmã. O pequeno protagonista vê a intrusa como clara ameaça e embarca no desconhecido, sem saber como lidar com a descoberta, temendo pela própria segurança e a da mãe Rosie, que por sinal é o grande símbolo de afeição do filme, numa interpretação de Scarlett Johansson que exala aconchego e carinho.


No entanto, se em certas passagens o diretor subverte as expectativas de quem assiste ao filme, como em um momento no qual temos certeza de que Jojo não irá cometer uma agressão contra determinado personagem, existem cenas nas quais o ritmo poderia ter sido melhor aproveitado, como na conversa entre Rosie e Elsa no sótão, cuja profundidade é totalmente desperdiçada pela pressa com a qual a cena e os diálogos se desenrolam.


O roteiro insere a dança e o sapato da mãe como símbolos um tanto quanto óbvios do escapismo necessário à época. Mas o desenvolvimento é feito de forma tão doce e habilidosa que o clichê é relevado e acaba-se comprando a ideia que nos é vendida.


Uma ideia que vem junto com a reflexão e o questionamento: estaríamos caminhando para vivermos numa época de intolerância como a do filme? Há inocência, maldade, ou desinformação em adultos que não veem, ou se recusam a enxergar absurdos dos governos atuais?


Não há resposta fácil. Mas uma boa estratégia é aceitar o simples fato de que tudo pode acontecer: beleza e horror, como uma cicatriz num rosto inocente de uma criança fofa.



 

Nota: 4/5


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