top of page

Morte e Vida Madalena | Crítica

  • Foto do escritor: Messias Adriano
    Messias Adriano
  • 28 de set.
  • 3 min de leitura
Morte e Vida Severina crítica

Entre documentários e dramas com pitadas psicodélicas acompanhados por uma trupe de colaboradores fiéis, o diretor Guto Parente nunca deixa de surpreender em seu cinema diverso e intenso. Desta vez, a boa surpresa ocorre com uma comédia que poderia ser classificada como leve, mas que também encontra ecos no estilo e temáticas tão caros ao cineasta.


Madalena (Noá Bonoba) é uma produtora cinematográfica que precisa lidar com a recente morte do pai, as filmagens de uma ficção científica B escrita por ele e a gravidez de 8 meses fruto de uma relação conturbada. O desenrolar da obra apresenta tantos personagens quanto problemas, todos e tudo ao redor da protagonista, que precisa lidar com falta de dinheiro a rebeldia descompromissada de diretores, passando por greves da própria equipe de produção.


Assim como Estranho Caminho, a paternidade e o cinema orbitarão como temáticas importantes novamente em Morte e Vida Madalena (no primeiro caso, até trazendo mais uma vez o ótimo Carlos Francisco como figura paterna). Aqui o pai serve como farol inicial de influência profissional e guia final em meio ao caos, tudo isso entrecortado pelo ofício de fazer filmes.


Morte e Vida Severina crítica

O adesivo “a serviço do cinema”, no entanto, não é mostrado com as letras ao contrário de forma gratuita: o jeito mambembe como tudo avança dentro da produção cinematográfica que está sendo filmada dá o tom de como fazer cinema no Brasil de forma independente é serviço para quem gostaria de endoidar. O trabalho e vida pessoal de Madalena se misturam. O drama e a comicidade de situações íntimas são potencializados por meio de agentes externos vindos de artifícios artísticos involuntários, como a fumaça de gelo seco que um personagem joga sem querer no meio de um velório.


A jocosidade vem muito por meio do texto (“ele não sumiu, ele quer aparecer” ou “isso na cabeça de um”), mas também e por econômicas atitudes que inteligentemente provocam o riso, como o simples ato de alguém substituir um vaso quebrado por outro idêntico em determinado momento. O humor, que sempre esteve presente em uma ou outra camada na obra de Guto Parente, aqui é potencializado de forma sagaz.


Morte e Vida Severina crítica

Com uma interpretação de fala calma, mas cuja quase-explosão é notória, Noá Bonoba carrega nas costas o filme B que vemos ser produzido na trama, mas dança muito bem entre as muitas qualidades e personagens de Morte e Vida Madalena. Os complicadores da trama não soam gratuitos (ora, a greve que ameaça interromper as gravações parece justa) e há complexidade na protagonista, que precisa lidar com adultérios e indecisões enquanto lidera com força a produção do filme e a continuidade de suas vidas (em meio aos maiores estresses, Madalena resiste com bravura à tentação de fumar para não prejudicar a gravidez).


E as “vidas” vêm no plural como em Porto Solidão, canção de Jessé referenciada na obra (“rimas de ventos e velas / vida que vem e que vai”). A morte do pai como vida que vai, a vida que vem como a de Fellini, que Madalena carrega com meses de gravidez (8 e meio, pra ser mais preciso). Se “Madalena”, assim como o “Severino” do poema de João Cabral de Melo neto representam um sofrimento constante, Guto Parente acredita que, de alguma forma, pelo Cinema ainda pode haver nascimentos de sóis, idas e vindas de vidas e, sobretudo, absolvição.



Morte e Vida Severina crítica

Nota: 4/5


1 comentário


Milena Moura
Milena Moura
28 de set.

Muito bom!

Curtir
bottom of page