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Para Vigo me Voy | Crítica

  • Foto do escritor: Messias Adriano
    Messias Adriano
  • 22 de set.
  • 3 min de leitura
Para Vigo me voy crítica

Um dos fundadores do Cinema Novo, o diretor Carlos Diegues tem no currículo o memorável Bye Bye Brasil, sucessos de público como Xica da Silva e o videoclipe Exército de Um Homem Só, da banda Engenheiros do Hawaii (antes da chamada “retomada do cinema brasileiro”, os cineastas se viravam como podiam). Nesse sentido, Para Vigo me Voy, documentário dirigido por Lírio Ferreira (Sangue Azul) e Karen Harley (Lixo Extraordinário), trata-se de uma celebração não só da obra de Cacá Diegues, mas também do próprio do cinema nacional.


Em meio às muitas passagens dos filmes do diretor, são diversas as entrevistas do próprio Diegues pelos anos, desde a mocidade em divulgações das primeiras obras na Década de 60, passando por momentos mais recentes quando, idoso, levar uma queda é motivo de sobressalto em toda a plateia do cinema. Nas conversas que vemos, rejeita-se a ideia das cabeças falantes ou letreiros explicativos, o que, de certa forma, traz mais fluidez para o documentário sobre a trajetória do personagem.


Convencido no início da carreira que a força do Cinema Novo, como a terceira lâmina, viria não somente para mudar a história do cinema, mas do Brasil e do planeta, Diegues tem no seu percurso profissional o mais vocal rompimento com a própria ideia do Cinema Novo (e ser o pai da expressão “patrulha ideológica” certamente contribuiu para essa fama). Passamos então pela idealização juvenil e desilusão posterior do cineasta, que busca depois uma linguagem menos fechada ao público do que a que os cinemanovistas produziam.


Para Vigo me voy crítica

Filmado inicialmente a uma distância que captura o protagonista do filme desde os arbustos de uma casa, passando por contra-plongées em entrevistas posteriores e chegando ao ponto de a câmera quase bater na cabeça de Diegues, a abordagem sai rapidamente do estilo de documentarismo “mosca na parede” (onde tudo é capturado com a menor intervenção possível dos realizadores das filmagens), mas não chega a colocar mosca na sopa.


Isso porque, se há questionamentos, eles são respondidos de pronto (vide a coletiva de imprensa de Quilombo), sem direito a tréplicas. Tais contrapontos não se sustentam em praticamente nenhum momento, sublinhando ainda mais o caráter de homenagem hagiográfica da obra.


A montagem se encarrega de fazer um fluxo que foge à caretice do “nascimento ao túmulo”. Vemos Diegues dirigir e orientar lendas do cinema como Jofre Soares, com explicações claras e resultado posterior mostrado em tela. Se em algum momento nos questionamos sobre a ligação musical do diretor - ele trabalhou com Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e, por que não, Humberto Gessinger, logo vamos acompanhar a justificativa do protagonista ao falar, brevemente, de sua conexão com a música.


Para Vigo me voy crítica

Se por vezes existe um aspecto de filme caseiro, é porque de certa forma ficamos um pouco mais íntimos do personagem sem cair no exploratório ou sensacionalista: a tragédia da filha Flora, que faleceu aos 34 anos, vítima de um câncer no cérebro, é citada rapidamente de forma bonita e respeitosa, no limite para deixar quem não conhece o caso na curiosidade e, quem conhece, com a sensação de familiaridade


Celebração morna e confortável, mas nunca maçante, Para Vigo me Voy encapsula em pouco mais de 90 minutos momentos importantes para a história do cinema brasileiro e para a biografia de Cacá Diegues. Além de dar vontade de rever Bye Bye Brasil.



Para Vigo me voy crítica

Nota: 3/5

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