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O Assassino | Crítica

Foto do escritor: Messias AdrianoMessias Adriano

Atualizado: 2 de dez. de 2023


Michael fassbender apontando uma arma

Uma das características marcantes do diretor americano David Fincher é a capacidade que o cineasta tem de inserir detalhes e símbolos curiosos em suas obras. Talvez muito disso tenha relação com o capricho extremo pelo qual o artista é conhecido: apesar de rejeitar o rótulo de perfeccionista, é comum ver relatos de cenas serem gravadas 34.389 vezes até ficar no gosto do chefe, ou da obsessão dele com horários e cronogramas.


O fato é que, seja em Clube da Luta, Millennium: Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, passando pelo controverso Mank (que eu gosto), todos os filmes do diretor possuem aqui ou ali simbolismos que podem até passar despercebidos, mas nunca soar gratuitos, aliados a personagens fortes o suficiente para não deixarem o ritmo das obras cair no enfadonho. Esses mesmos atributos estão neste último filme do diretor, O Assassino.


Na trama, um matador profissional (Michael Fassbender) comete uma falha em um de seus serviços. Esse erro desencadeia na ameaça à vida de pessoas próximas ao protagonista e faz com que o metódico personagem principal procure vingança em uma caçada internacional. Essa pessoa ameaçada, inclusive, é interpretada pela atriz tupiniquim Sophie Charlote, bem rapidinho, piscou-perdeu, mas ei... Éé do Brasil-sil-sil! Gosto de pensar que ela foi escalada depois de os produtores terem visto ela comendo pão e levando tapa na novela Ti Ti Ti.

Michael fassbender olhando por uma luneta

Bebendo da fonte de Jean-Pierre Melville em O Samurai, que também trazia um ritmo tenso e um protagonista regrado, cuidadoso e que não deixa rastros, é bacana perceber como Fincher constrói e desenvolve a narrativa de um assassino profissional perfeccionista que, à medida que vai alcançando os alvos da vingança, compreende que precisa lançar mão de algumas regras que ele mesmo criou para atingir os objetivos. Além disso, o protagonista desperta a curiosidade pelo método paciente, e não deixa de se ser curioso como o filme acaba apontando o dedo para os ônus que a tecnologia traz: se antes você só conseguia adquirir acessórios eletrônicos para um furto caso conhecesse um receptador ou trabalhasse em uma agência de inteligência governamental, hoje você pode encontrar um aparelho que clona de cartões na Amazon.


No entanto, apesar de gostar do texto e de como a montagem consegue manter o ritmo instigante o tempo todo, a conclusão deixa um gosto anticlimático de: tá... mas é isso? É como se faltassem mais consequências para as ações desse protagonista misterioso. Ele mata uma pessoa na República Dominicana, sai ileso, mata um advogado em Nova Orleans, bola pra frente, vai atrás de outra pessoa na Flórida, também consegue (apesar de que ok, essa aqui tinha um cachorro-maromba que dificultou um pouco as coisas), tudo sempre de forma muito meticulosa para esconder o crime, mas de uma maneira tão perfeita que perde a graça.


Vemos um homem que cometeu um vacilo perseguir os que lhe ameaçam, mas que é tão bom e habilidoso no seu serviço, que os obstáculos no caminho acabam sendo facilmente transponíveis. É como se o Super-Homem enfrentasse uma quadrilha de assaltantes de banco, ou como se o Magneto marcasse uma briga com alguém no meio de uma fábrica de metais.

Michael fassbender prestes a lhe matar

Apesar da falta desse risco, o filme jamais se torna ruim graças ao talento da direção e da montagem, que conseguem evitar a monotonia em uma trama cujo próprio protagonista classifica o ofício como “monótono”. Episódica e talvez com símbolos evidentes até demais no fechamento, a construção de O Assassino traz no desenrolar movimentos de câmera precisos que ajudam a perdurar a tensão constante.


Ou seja, diferente de outros filmes do próprio diretor, é bem possível que daqui a alguns anos o espectador ainda lembre de diversos momentos de A Rede Social ou Garota Exemplar, mas é pouco provável que lembre de alguma passagem memorável de O Assassino.

 

Nota: 3/5

nota 3/5

33 visualizações1 comentário

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1 Comment


Milena Moura
Milena Moura
Nov 10, 2023

Gostei muito do filme, mas concordo com relação ao gosto anticlimático que o final traz

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