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Pinóquio Por Guillermo del Toro

Foto do escritor: Messias AdrianoMessias Adriano

Atualizado: 27 de abr. de 2023


Quantas versões de Pinóquio estrearam nos últimos anos? De 2020 pra cá, chegaram às telas a leitura sombria e de maquiagem assustadoramente hiper-realista italiana, o remake norte-americano computadorizado do clássico da Disney, e agora o stop motion de Guillermo del Toro, diretor por trás de A Forma da Água e O Labirinto do Fauno.


A base é a mesma: marceneiro humilde e solitário faz um boneco de madeira que ganha vida magicamente. O boneco-menino é curioso, se envolve em enrascadas, e cada vez que conta uma mentira, o nariz cresce, dando trabalho e dor de cabeça para seu criador, Gepeto.


Se o início desta versão parece percorrer caminhos narrativos banais demais, a exemplo da trilha sonora doce que acompanha e reforça a melancolia da situação, del Toro faz questão de nos lembrar que este é um filme dele. A excentricidade do diretor está presente na confecção (ou concepção?) do boneco, que ganha tons de horror, com ângulos tortos, tempestades e trovões, além de a fada angelical do imaginário popular ser substituída por um ser híbrido com muitos olhos rondando o corpo, assim como nas descrições mais esquisitas de anjos que a bíblia traz.


A própria escolha do stop motion, animação cuja captura de imagens utiliza objetos reais quadro a quadro, colabora para o tom incomum, fugindo do realismo estético de um live action, mas também se distanciando da beleza colorida das animações da Disney. O encantamento do clássico revisitado ganha destaque não só pelas rugas e barba desgrenhada de Gepeto, ou pelo sorriso ingênuo e alegre de Pinóquio, mas também pela bela iluminação azul para sublinhar a tristeza do luto, ou pelos tons quentes amarelados que são comuns à alegria do protagonista.



Mas em meio às muitas versões da fábula, del Toro reinventa transgredindo. O ensinamento da história clássica sempre foi a da importância da obediência, de nunca contar mentiras, de sempre trabalhar e ter controle contra os excessos. Ao situar a história na Itália fascista, o diretor põe em xeque justamente essa moral: obedecer, estudar, trabalhar... Por quê?


Essa submissão cega, ordem pela ordem, é o sonho dos ditadores: “Crer, obedecer, combater”, é o que se lê nos cartazes espalhados pelas ruas do filme, numa exaltação ao sentimento patriótico do período e que del Toro critica. O próprio Mussolini-anão aparece nesta versão dizendo gostar de marionetes, algo que Pinóquio sabiamente rejeita ser.


Diferentemente do clássico, a versão subversiva de del Toro condecora a liberdade frente à rigidez, numa adaptação onde, vejam só, até a mentira ajuda os personagens a escaparem de situações fatais.


A disciplina exagerada leva a distanciamentos emocionais e padronizações assépticas. Cabe a quem tem o papel de pai (ou de mestre) não somente ensinar a cumprir ordens, mas reconhecer que as diferenças entre cada personalidade são positivas, que as pessoas não podem ser controladas como um exército, e, principalmente, ensinar a bondade acima de tudo. Obviamente isso requer calma. Mas como diz o próprio Gepeto no início do filme: “tudo que é bom requer paciência”.

 

Nota: 4/5



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