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Ao Oeste, em Zapata | Crítica

  • Foto do escritor: Messias Adriano
    Messias Adriano
  • 26 de set.
  • 3 min de leitura
Ao Oeste, Em Zapata crítica

Landi é um homem velho, magro e aparentemente frágil que passa dias em um pântano insalubre no sul de Cuba para caçar crocodilos e dar algum tipo de sustento e alimentação para a família: sua esposa Mercedes e seu filho.


Parte-se dessa sinopse, dessas pessoas e dessa situação uma infinita gama de possibilidades. Ocorre que, em documentários, mais do que encontrar personagens que tenham uma história curiosa ou surpreendente, homens e mulheres que falem de forma emotiva ou engraçada com a câmera, grandes feitos e como foram alcançados, a abordagem atribuída à narrativa é o que vai diferenciá-los e imprimir-lhes qualidade ou destaque. No caso de Ao Oeste, Em Zapata, o diretor David Beltrán i Mari opta inteligentemente pelo caminho da contemplação.


Propositalmente lento e sem pressa, o talento audiovisual do diretor faz com que o filme tenha um único plano de cerca de 15 minutos de duração sem soar monótono. Vermos um homem capturar, grunhir e amarrar a boca de um crocodilo durante todo esse tempo, mais do que fatigar, atiça nossa curiosidade pelo exotismo, mas também nos aflige, afinal é uma pessoa de aparência frágil contra um réptil perigoso no meio de um local isolado.


Mas quem é este homem e o que o motivou a parar ali? Como consegue dinheiro para comprar cigarros? Para onde vai? Como consegue domar tão bem os bichos? A chuva faz com que os crocodilos não ataquem? As meias confundem os répteis? O que diabos esse senhor faz com uma tocha no meio da noite? São dúvidas e mais dúvidas as quais somos convidados a refletir conforme o filme se desenrola. E depois de criarmos a curiosidade, aí sim vamos aprender um pouco mais sobre esse homem, sua família e a vida fora do pântano.


Ao Oeste, Em Zapata crítica

Quase sem diálogos, o que mais salta aos olhos inicialmente neste filme é a beleza imponente da fotografia. O formato cienamascope em preto e branco brinca com convenções ao estender a largura da janela de projeção (scope), mas ao mesmo tempo retirar um pouco a profundidade da imagem (o preto e branco invariavelmente favorece o que está em primeiro plano).


Além disso, belas rimas visuais e de progressão narrativa nos serão reveladas nas duas partes do documentário: somos apresentados inicialmente aos dois personagens isolados e de costas, sob o mesmo ângulo, para então partirmos para os close-ups nos rostos duros, cheios de rugas e histórias a contar, à medida que a trama se desenrola.


Mas se há grandiosidade em termos imagéticos, não menos importante se faz o som de Ao Oeste, Em Zapata. Se o filme é branco e preto, a mixagem do som aqui funcionará como as cores e texturas diversas que poderiam existir. De captação e mixagem primorosas, há no documentário uma profundidade impressionante que nos faz, mais do que ouvir tudo do ambiente (água, pássaros voando, passos de botas encharcadas), ficarmos completamente imersos naquela natureza tão bela quanto inebriante.


Sem vaidade para com o cineasta ou os personagens, o filme se distancia de projetos como Homem-Urso, no qual Werner Herzog fala com o público, ou o personagem fala para a câmera. Mesmo quando sai do pântano, não há nenhum interesse da obra em mostrar o mundo exterior. Alastramento da pandemia de COVID e campanhas políticas com jingles e promessas são ouvidos pelo rádio, mas tudo distante demais daqueles personagens, notícias menos importantes do que a vida, dificuldades e alegrias que eles vivenciam.


Em outras mãos mais impacientes, o projeto facilmente poderia ser convertido em uma série de entrevistas sem o impacto ou poesia visual e sonora que existe aqui. David Beltran i Mari faz dos seus personagens heróis solitários e silenciosos, assim como de sua própria obra audiovisual um ato de proeza mística.



Ao Oeste, Em Zapata crítica

Nota: 4/5

1 comentário


Milena Moura
Milena Moura
26 de set.

Muito bom, parabéns!

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