Jovens Mães | Crítica
- Messias Adriano

- há 24 horas
- 3 min de leitura

O cinema dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne é calcado realismo, histórias com pé no chão geralmente centradas em pessoas comuns lutando contra um sistema que lhes suga energias emocionais. Tal característica não vem desacompanhada de uma grande sensibilidade humana dos belgas, que sempre extraem bons questionamentos dos conflitos principais. Por seguirem quase sempre tal fórmula, há uma frieza repetitiva que muitas vezes incomoda.
Com prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes 2025, Jovens Mães acompanha a jornada inicial de cinco mães adolescentes na Bélgica, garotas que engravidaram e não possuem suporte familiar estável e são ajudadas por um serviço de acolhimento público enquanto lutam por um futuro melhor para seus bebês.
A jovem Jéssica (Babette Verbeek), por exemplo, inicia o filme desejando uma espécie de fechamento de ciclo ao dedicar esforços para conhecer a própria mãe, que a entregou para adoção. A garota ainda grávida passa por dúvidas que vão desde o que fazer se o bebê não se mexe há mais de uma hora na barriga, a procurar motivos de não sentir alegria ao segurar o próprio filho.

O centro que lhes acolhe aqui funciona como um importante catalisador de todas aquelas garotas e ponto de equilíbrio do próprio filme. Desempenhando um trabalho essencial de ajuda às jovens mães, as profissionais que ali trabalham colaboram para formar mães que querem cuidar dos seus bebês, apesar das dificuldades, e dão suporte para aquelas que não querem, sempre pensando no melhor para as crianças. Chega-se ao ponto, inclusive, de proibirem a visita de uma das mães que sumiu por três dais sem dar notícias.
O ambiente é de colaboração frequente entre as profissionais, mas principalmente entre as próprias garotas. Quando uma não pode cozinhar para o grupo por conta de um compromisso, outra prontamente se oferece. Quando uma precisa que o pai de uma das crianças reapareça, outra topa participar de uma mentira para ajudar que o homem faça a visita.
Os Dardenne filmam tudo sem vaidade: não há mirabolâncias com os movimentos de câmera ou uma ou outra iluminação especial. São frequentes os longos planos com câmera na mão e os choros são trazidos de maneira discreta, muitas vezes sem nenhum tipo de trilha sonora. Um presente para atrizes, que desempenharão vários diálogos dramáticos em um só take e com atenção maior para elas.

Pobres, abandonadas pelas próprias mães, ou com mães alcoólatras, rejeitadas pelos companheiros ou viciadas em drogas. São muitas as barreiras e ladeiras que as garotas precisam superar, a ponto de nos perguntarmos se não há uma certa satisfação sadista dos diretores em insistir na constante queda e constantes decepções.
São diversos os objetivos das garotas. Umas querem criar, outras querem entregar para adoção. Fala-se em pensamentos de aborto anterior e demonstra-se dúvidas ou certezas surpreendentes sobre o que fazer com as crianças, sendo algumas mais amorosas e outras mais indiferentes aos sorrisos fofos que os bebês lhes apresentam.
Se divergem nos objetivos e conflitos, as jovens são unidas pela confusão de uma juventude adolescente acachapada com a responsabilidade repentina de criar de outro ser humano e dar dignidade e futuro para criança, sendo poucos poucos os casos em que uma alegria genuína será encontrada naquele presente conturbado. As decisões que podem fazer sentido no futuro, no entanto, estão ali plantadas.
Nessa frieza curiosa, Jovens Mães aquece com a pouca intensidade de um filme correto, mas que dificilmente será lembrado ou será destacado na filmografia dos Dardenne.

Nota: 3/5







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