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15º Curta Canoa (2025) – Dia 3

  • Foto do escritor: Messias Adriano
    Messias Adriano
  • há 3 dias
  • 4 min de leitura

Curta Canoa
Posso Contar Nos Dedos (Victória Kaminski/RS)

A Mostra Dragão do Mar, dedicada às produções locais no 15º Curta Canoa, começou em bom nível com o curta Raízes do Ceará – Mãos da Terra (Lila Valfer/CE). O documentário explora o processo de produção de farinha de mandioca na cidade de Fortim. Eu sei. Como um curta sobre o fabrico de farinha pode ser instigante? Fugindo de um certo teor excessivamente jornalístico, a escolha por não utilizar trilha sonora durante os depoimentos funciona para dar um tom mais austero e, por que não, poético à produção.


Tentando utilizar-se da máxima de “quanto mais pessoal, mais criativo”, o curta animado Mundinho (Gui Oller, Pipo Brandão e Ricky Godoy/SP) é uma espécie de carta de pai à filha com teor de ensinamento e declaração de amor. Até que encontra um bom equilíbrio sem puxar tanto ao melodrama. Mas na balança entre o pessoal e o criativo, talvez o segundo termo não tenha sido tão prestigiado assim aqui.


Deu continuidade à Mostra Infantil a animação O Ingazeiro (Tobias Rezende/MG). Com um belo uso de sombras para potencializar o suspense da trama, talvez o curta tivesse se beneficiado de uma voz mais potente ou sombria na narração, visto que há um tom de mistério que desperta a curiosidade em suas bases.


Algo de semelhante ocorre em Maré de Heranças (Maddu Soares/CE), filme que abriu a Mostra Competitiva. Chama atenção o belo texto que narra de forma delicada a luta permanente pela terra na comunidade histórica da Vila Estêvão, em Canoa Quebrada. No entanto, paira a sensação de um aspecto técnico (especialmente o sonoro) artesanal, representativo de tantas produções que mereceriam um esmero maior, mas que certamente esbarram na dura face do cinema independente (falta de grana mesmo).


A sequência de curtas apresentou dois filmes que ostentam o lúdico e o imaginativo, mas representados pelos opostos da infância e da velhice. A Menina Que Queria Voar (Tais Amordivino/BA) trata dos sonhos infantis sobre futuros profissionais, mas prefere um caminho açucarado no seu desenvolvimento e conclusão, o que deixa o desenrolar da história que não sabe o que quer ser um tanto quanto maçante de se acompanhar.


O Leve Bailar das Borboletas (Leandro Fasoli/SP) trata o luto de forma melancólica e poética, dando espaço aos longos silêncios para que seu protagonista, um viúvo que sofre com a solidão, encontre paz por meio da busca por uma borboleta. É uma amostra rara de que a seleção dos curtas do 15º Curta Canoa também quis dar espaço ao “não dito”.


Pisando o pé no acelerador do melodrama até causar um acidente feio e que ninguém quer olhar, Meu Superman (Alexandre Estevanato/SP) ainda tenta se sustentar na boa performance de Moacyr Franco como pai que sofre com doença degenerativa da memória, mas é evidente a falta de cuidado em muitos aspectos como direção e montagem que fazem o curta ser pura sacarina, daquelas de fazer careta.


Abrindo a Mostra Internacional, os personagens do mexicano Una Isla (Ricardo Muñoz Senior - México) encontram um meio-termo entre a dureza da realidade de imigrantes e a necessidade de fazer com que crianças sigam sonhando. Pai, mãe e filha pequena não sabem seu futuro e fazem uma ilha em meio aos muito carros e viadutos. Apesar de uma certa sensação de incompletude, é bonito.


Surpreendentemente, o cinema de horror se fez presente no Curta Canoa. O colombiano Bruxaria (Will Aguilera - Colômbia) é uma instigante narrativa que acompanha o conflito que inicia com uma mulher que nunca vemos, mas que sabemos que foi abandonada junto com a filha pelo pai da criança. Partimos então para acompanhar esse dito homem, mecânico de caminhões, que vai ser atormentado durante a noite por um espectro oriundo de um feitiço. Curioso como o curta também dá espaço aos silêncios e aos longos planos, o que gera uma atmosfera de ansiedade e estranheza até chegar no seu ápice. Um dos melhores da Mostra.


Curta Canoa
Bruxaria (Will Aguilera - Colômbia)

O que nos leva também a outro que deve ficar na prateleira dos mais marcantes do festival. Posso Contar Nos Dedos (Victória Kaminski/RS) é uma animação com arroubos de musical (!) que vai tratar sobre os arrependimentos, tropeços e esperanças da protagonista que, viajando de carro, perde um dedo da mão (ou mais um dedo da mão) enquanto o mundo ao seu redor passa por transformações curiosas.


É muito bonito como até o ritmo descompassado do cantar da personagem combina com a ansiedade dela e, porque não, da sociedade atual. A mulher que chora no carro até as lágrimas encherem o veículo d’água (olha o potencial da animação de se desgarrar do real) e que ganha nossa simpatia ao imitar um homem que lhe tratou de forma indiferente conduz essa estranha e instigante narrativa até achar uma semelhante que lhe dá conforto. No meio de tantas dúvidas e medos, perdem-se os dedos e os pedaços de si, mas ainda há a certeza de que existe beleza no sol batendo na janela ou no amor pelos gatos, como diz a letra de uma das canções.


A verborragia tomou conta dos dois últimos curtas da noite. Fã Nº 1 (Elder Fraga/SP) é uma longa e labiríntica conversa entre dois cunhados atormentados pela morte trágica de Nataly, uma atriz que era irmã de um e companheira amorosa do outro. O talento dos dois atores não é suficiente pra segurar os vinte minutos de conversas que vão desvelando pouco a pouco quem era aquela mulher e como sua morte ocorreu. Há uma certa artificialidade do texto que não se consegue driblar.


A Cura dos Corpos (Diego Trevisan/SP) claramente agradou o pequeno público presente na última exibição da segunda-feira, que aplaudiu bastante ao final do curta. A história de superação de um câncer é narrada e apresentada de forma performática pelo também diretor. É claro que não deixamos de respirar aliviados com o encerramento e isso se dá tanto pela cura encontrada depois de tanta luta do protagonista, quanto pelo próprio fechamento em si da obra, que finalmente acaba e que temos a certeza não vai ficar tão marcada na memória assim.


Continuem acompanhando a cobertura dos próximos dias do 15º Curta Canoa aqui no Tardes de Cinema.

1 comentário


Milena Moura
Milena Moura
há 3 dias

Parabéns pelo trabalho, estou adorando acompanhar!

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